domingo, 11 de setembro de 2011

Resposta da Prof. Cláudia Trindade (departamento de História) aos pais da Unidade Centro

Segue a excelente carta da companheira Claudia Trindade, professora do Departamento de História, lotada em Realengo, aos pais da unidade Centro que exigiam o imediato retorno dos professores substitutos ao trabalho.

Parabéns à Cláudia
:

Primeiro gostaria de me apresentar:
Sou ex-aluna do CPII - Unidade Humaitá.
Sou mãe de alunas do CPII - Unidade Centro - 6º e 8º anos
Sou professora do CPII - Unidade Realengo – substituta desde fevereiro deste ano.
Antes de qualquer coisa gostaria de dizer que estou em greve, apoio a greve, e participo das atividades de greve e assembleias. E participo como professora, como mãe e como ex-aluna.

Causou-me espanto a carta que em seu primeiro ponto de resolução diz: "Respeitar o movimento de paralisação como forma democrática de organização dos TRABALHADORES desse colégio" e, mais adiante, como posição oficial, desclassifica professores substitutos como TRABALHADORES desse mesmo colégio.

Professores substitutos, como categoria precarizada, não deveriam existir, salvo quando na substituição ocasional de professores efetivos por doença, licença para formação, ou morte de professores efetivos até a realização de novo concurso para ocupar a vaga em aberto.
A realidade do CPII hoje não é essa. Grande parte dos departamentos funciona com grande número de substitutos.
A unidade Realengo II tem 40% de seu quadro de professores formado por substitutos. Quase a metade da unidade. A unidade Realengo I, possui apenas 2 professores efetivos de núcleo comum. Todos os outros são substitutos. Os alunos do Proeja, desta mesma unidade, que fazem o curso de administração não têm aula de administração (estranho não?). O professor morreu, e não há concurso ou seleção pública para que esta vaga seja preenchida.

Em fevereiro deste ano, foram contratados 60 professores. Depois disso, mais alguns foram chamados, mas não sei o quantitativo destas novas contratações. Estes professores ficaram 3 meses sem receber salário, mas compromissados, como trabalhadores que são, não deixaram de dar aula por este motivo. Não preciso dizer que a ausência de salário complicou a vida destes trabalhadores e de suas famílias, gerando inclusive dívidas. Em paralelo, fizeram reuniões com a direção geral, e com o Sindscope e ADCPII. E pela dificuldade do alcance de soluções para o problema foram realizadas 2 paralisações – a primeira de 1 dia e a segunda de 2 dias. Algumas perdas aconteceram nesse processo de professores que não conseguiram arcar com a pressão sofrida no seu orçamento doméstico e pediram desligamento do colégio.
A Unidade Centro viveu essa situação, no turno da noite, pois uma professora se viu obrigada a não mais continuar sem salário e buscar outro emprego. Alunos desta professora ficaram algumas semanas sem aula por este motivo. Após as mobilizações e também da perda de professores, o colégio passou a pagar com recursos próprios e, somente em julho, os substitutos foram incluídos na lista de pagamentos do Ministério do Planejamento. Resta ressaltar que os professores efetivos apoiaram amplamente o movimento dos substitutos.

Os professores substitutos cumprem suas funções igualmente aos efetivos. A carga horária e a remuneração são correspondentes. Substitutos e efetivos, reunidos em colegiado no mês de agosto deste ano, definiram o novo livro didático a ser adotado no ensino médio, e debateram sobre possíveis modificações nos quadro de dias e disciplinas. O compromisso com a qualidade em sala de aula, com os trâmites burocráticos e com o acompanhamento de conteúdos, metodologias e atividades são debatidos semanalmente nas reuniões de equipe por disciplina, em completo respeito e colaboração profissional por todos os professores, independentemente de seu vínculo com a instituição. Também eles definem os rumos do CPII. Os substitutos fazem parte deste colégio porque são trabalhadores deste colégio.

A carta que indica diferenciação entre efetivos e contratados corre um risco de rachar a comunidade escolar. Professores substitutos não são professores de 2ª classe. Esta diferenciação pode cindir o compromisso que todo e qualquer professor tem no exercício de sua profissão. Professores, substitutos ou efetivos, estão em greve por motivos justos, e que garantam a continuidade do ensino de excelência que os alunos e futuras gerações de alunos do CPII merecem. Um professor busca uma escola de qualidade, independentemente de seu vínculo. Se a intenção do governo é fragilizar os vínculos de seus trabalhadores, a comunidade escolar deve tomar posição em sentido oposto. Caso contrário, correrá o risco de ter trabalhadores sempre temporários, cada vez em maior número, e que, por seu caráter eternamente fragilizado, poderá se transformar em cumpridor de horário que pouco guardará de vínculo com a construção e manutenção desta escola.

Fazer greve não é uma opção fácil. A angústia de um professor com a formação do seu aluno e a cobertura do currículo não é algo que se pode medir. A reposição dos dias em greve atinge a todos, professores, servidores e alunos, e por consequência, as famílias de ambos. Mas a intransigência do governo em negociar forçou a deflagração da greve. É importante destacar que são mais de 220 campi em greve no país. Mas isso não sai na mídia.

Acredito que a greve é um movimento que deve ser abraçado por toda a comunidade escolar. O que efetivamente tem sido feito por uma parcela insuficiente. Exemplo disso foi a grande e bela manifestação ocorrida na Bienal que forçou o Ministro da Educação a receber uma comissão composta por professores, técnicos administrativos, responsáveis e alunos. Houve uma boa participação dos alunos de diversas unidades, o que mostra o apoio dado ao movimento contra a precarização do CPII.

Um colégio de qualidade se constrói sem rotatividade de professores, com boa remuneração destes e dos técnicos-administrativos, com formação continuada e com condições materiais e físicas adequadas.

Por fim, acredito que este é um debate que deve ser feito por todas as unidades. Proponho que os responsáveis de outras unidades sejam contatados e que possamos construir um amplo debate sobre os problemas e as soluções/reivindicações da comunidade escolar. Coloco-me à disposição, caso isso seja aprovado na próxima reunião, de contatar os responsáveis da Unidade Realengo.

Como ex-aluna, mãe e professora, defendo um Colégio Pedro II de qualidade para meus alunos, para minhas filhas e para as futuras gerações.

Abraços,
Claudia Trindade.





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